Projeto Heneya

 

O projeto Heneya é uma ação permanente do instituto que envolve uma série de ações coordenadas pelos diretores Cesar Mancilha Carvalho Pedigone e Marcela Thiemi Andrade Korogi, que viabilizaram a captação de água em diversos núcleos famíliares dispostos em 3 aldeias do Rio Jordão, além de um sistema pioneiro de tratamento completo de esgoto no Centro Campo Sagrado na aldeia Nova Empresa

O projeto foi dividido em 4 etapas, que ocorreram simultaneamente

 

 

1ª Etapa – Captação de água e saneamento, com construção de cozinha e cabine de banho com chuveiro no Instituto Campo Sagrado – sede aldeia nova empresa:

Foram ações financiadas por doações da empresa Magazine Luiza, instituto Bio Saneamento, por doações de pessoas físicas como Cesar Mancilha Carvalho Pedigone, Gildo Sales Bane Huni Kui, Karina Pavão Patrício e por diversas doações menores realizadas através de campanha de financiamento coletivo (Na qual também foi solicitado recurso para construção de uma escola laboratório no mesmo local, de nome Yura Kaya Xinã, a qual está ativada até os dias atuais).

O início do projeto deu-se em 2020, com a instalação de 2 banheiros secos e uma bomba de captação de água movida a energia solar, bem como a construção de um completo sistema hidráulico para distribuição de água encanada, na sede do Centro Campo Sagrado Chave da Lua, localizada na aldeia nova empresa.

A instalação dos banheiros secos contou com o apoio técnico em parceria com o Instituto Bio Saneamento, representado na ocasião pelo diretor Fazio.

Foram instalados 2 banheiros secos (1 masculino e 1 feminino), construídos com madeira, junto a instalações básicas de torneira e esgotamento de água proveniente de urina para um ciclo de bananeiras.

O projeto contou com encontros de educação em saúde com os participantes do Campo Sagrado e os visitantes que estavam presentes, promovidos pelo Dr. Cesar Carvalho, no qual foram abordados temas como a importância de saneamento adequado nas residências, orientações de higiene pessoal, doenças infectocontagiosas de ciclo oral fecal e orientações de como utilizar corretamente um banheiro seco, associadas a criação de um material didático impresso que demonstrava com desenhos no idioma Hãtxa Kui a importância de se realizar atividades de higiene pessoal (escovar dentes, lavar as mãos) e orientações de como usar o banheiro seco.

O projeto levou média de 2 meses em construção, tendo sido finalizado em 2020 e por fim estavam prontos os banheiros, que são utilizados até os dias atuais. Os dejetos do banheiro seco, que são preenchidos em barris de polietileno de 120L, são transformados em composto orgânico que é depositado para nutrir árvores das redondezas, em local seguro, evitando transmissão de doenças humanas de ciclo oral-fecal.

Vista interna do banheiro seco masculino, com um assento para evacuar e um urinol à direita
Vista da caixa d´água de 2500L, acima, e a caixa d´água instalada posteriormente, que serve de reservatório, com capacidade de 5000L. A direita, sistema para tratamento da água captada do igarapé, que consiste em 1 filtro de polipropileno de 35 micras de gramatura, para retenção de lama e partículas maiores, e outro filtro de carvão ativado, para filtração de possíveis odores, microorganismos diversos, cloro e outras substâncias que adsorvem no carvão. O sistema conta com um clorador de água que é de uso opcional, pois na época do verão a água é cristalina e sem coliformes fecais, sendo considerada rica em coliformes fecais em época de chuvas.
Fossa de evapotranspiração funcionando com sucesso, já com bananeiras frutificando, tratando águas cinzas provenientes da cozinha e lavanderia do espaço Campo Sagrado.

 

Em seguida ao banheiro seco, foi desenvolvido o sistema de captação e distribuição de águas, que contou também com a construção de uma cozinha e uma cabine com chuveiro;

Tal etapa foi financiada por doações de Cesar Carvalho, Marcela Thiemi e Gildo Sales Bane Huni Kui.

Foi adquirida para tal finalidade uma bomba hidráulica de sucção movida a energia solar da marca Anauger, a qual foi instalada pelo técnico Elino Silva. O equipamento foi instalado no igarapé que passa ao lado do laboratório e dos dormitórios locais.

A água então foi distribuída através de canos de polietileno baixa densidade para uma caixa d´água 2500L próxima ao laboratório, e outra parte bombeada para uma caixa dágua de 1000L próxima a casa de feitio de medicinas indígenas, mais distante do local de captação. Também foi instalada uma pequena caixa dágua acessória de 310L na escola-laboratório Yura Kaya Xinã.

A água foi então distribuída encanada a partir das caixas d´água para a cozinha, cabine de banho, kupichau, escola-laboratório e casa de feitio.

A cozinha foi construída junto do projeto, e contou pela primeira vez com torneiras, sendo uma torneira para lavar loças, e na varanda da cozinha foram construídos 2 tanques para lavagem de roupas.

Inicialmente a água proveniente do esgoto gerado, pela cozinha, foi direcionada para um plantio de bananeiras, onde foi posteriormente construída uma fossa de evapotranspiração.

Por fim, 6 meses após a finalização da parte já descrita, em ação idealizada e coordenada pelo Dr. Cesar Carvalho, com auxílio de financiamento do Instituto de Neurolinguística Aplicada, representado pela pessoa de Jairo Mancilha, com apoio técnico e financeiro do Instituto Bio Saneamento, foi construída uma fossa de evapotranspiração, a qual recebeu drenagem das águas do esgoto da cozinha, principal fonte de esgoto águas cinzas do local (visto que recebe água da lavagem de roupas e da cozinha).

A logística foi difícil, visto que o Centro Campo Sagrado fica 1km distante da beira do rio, e o caminho para acesso contém diversas subidas e descidas muito inclinadas, só sendo possível realizar trajeto a pé.  Desta forma o transporte de britas, lona PEAD e outros materiais foi bastante custosa e dispendiosa, o que também impossibilitou pela falta de recursos a construção de uma fossa de alvenaria.

Como alternativa à alvenaria, foi utilizada madeira local, de alta densidade e impermeabilidade (Massaranduba), revestida ainda com verniz marítimo, para construir a estrutura da fossa. A mesma foi coberta internamente com lona PEAD e então foram colocados cubos de madeira impermeabilizada no fundo, seguido de britas e por fim areia, compondo as camadas de filtração. Acima da areia foram plantadas bananeiras do tipo Baé, as quais cresceram bem e estão dando frutos atualmente. A água tratada que excedesse a capacidade é direcionada por um cano ladrão até a beira do igarapé. Felizmente as dimensões foram bem calculadas e devido ao fluxo de pessoas e uso de água local, a fossa nunca transbordou e funciona bem até os dias atuais.

 

 

2ª Etapa: Poço artesiano para captação água Centro Campo Sagrado – sede aldeia Nova Empresa

 

A captação de água através da bomba movida a energia solar gerou uma revolução em saúde no local, pois a equipe do Campo Sagrado não necessitava mais buscar água com panelas no igarapé, o que provinha água de uma higiene ainda mais deficiente, além de propiciar acidentes no transporte de água devido a o peso e posições ante ergonômicas na coleta e transporte (uma das mulheres da família desenvolveu lesões em coluna cervical, entre outros fatores, por carregar panela com água sobre a cabeça). Ademais em dias chuvosos e frios era sofrida a coleta de água no igarapé, o que facilitava surgimento de gripes e outras doenças devido a imunidade das pessoas que era afetada por estarem com seus corpos molhados em dias chuvosos.

Ainda assim, apesar da facilidade da captação com bomba solar, tinha-se o problema da qualidade da água: em dias chuvosos o igarapé ficava com suas águas barrosas e dessa forma a água não vinha com boa qualidade. Sem contar que a capacidade de sucção e bombeamento da bomba era reduzida, dessa forma especialmente em dias de pouco sol, não se obtinha água em quantidade suficiente dependendo do número de usuários.

Dessa forma foi mantido por 2 anos a bomba de sucção solar. Após isso, devido a necessidade, foi iniciado um projeto para construção de um poço artesiano no local, de modo a obter água em quantidade abundante e sem alterações físico químicas (turbidez devido a barro e outros poluentes) em dias chuvosos.

Foi então realiza a perfuração de poço artesiano em Julho de 2024

O poço artesiano forneceu água em abundância, tendo passado dias ligado a fio sem nunca ter esvaziado. O profissional que foi pago para realização do poço artesiano, contratado por uma empresa proveniente de Feijó, infelizmente não realizou o trabalho completo, tendo deixado de vedar com cimento, realizar o selo sanitário e também não tampou o cano, sendo necessário que a própria equipe do Campo Sagrado finalizasse esta ação.

Foram realizadas análises das águas do poço artesiano e do igarapé do Campo Sagrado. Após análises, verificou-se que a água do igarapé, quando não em dias de chuva em que se encontra turva, é de ótima qualidade, não apresentando nenhum contaminante de risco.

Já a água do poço artesiano, infelizmente apresentou quantidade pouco acima do permitido para potabilidade do metal Cádmio (quantidade verificada 0,006mg/L – quantidade máxima permitida 0,003mg/L). O poço também apresenta quantidade importante de gás contendo enxofre, por tal motivo a água apresenta mal cheiro.

Após pesquisas realizadas, foram encontradas soluções temporárias para o tratamento das águas do poço artesiano: A realização de 3 etapas sequenciais:

1-) Cloração da água; 2-) Filtração da água com carvão ativado em filtro grande 1000L/h (tal filtro tem a função de remover o mau cheiro da água e a presença de cloro; 3-) Filtração final da água com Zeolita watercell ZZ (0,4 – 1mm) , esta indicada para remoção de metais pesados da água, quando presentes em baixa quantidade, conforma ocorreu no poço do Campo Sagrado.

O projeto completo do poço artesiano iniciou em Junho 2023 e foi finalizado em Junho 2024 (parte final tratamento água poço artesiano)

* Infelizmente devido a falta de recursos pela imprevisibilidade de tais contaminantes na água, até o momento não foi possível adquirir o filtro com Zeolita, dessa forma considera-se uma água imprópria para consumo humano, porém tem sido usada nas obras e em outras atividades que necessitam água  em abundância, que antes eram muito difíceis de realizar pela falta de água disponível. Atualmente a equipe está esvaziando com frequência o poço artesiano com intenção de coletar uma nova análise no segundo semestre de 2024 a fim de verificar se a água vai permanecer contaminada para então se necessário adquirirem um filtro de zeolita adequado*

 

Poço artesiano instalado ao fundo, placas solares para funcionamento da bomba de sucção de água e filtro de carvão ativado com clorador sendo manuseados pela equipe

3ª Etapa: Captação de água em outros pontos da Aldeia Nova Empresa

Foi realizada a implementação de um ponto de captação de água para outro ponto da Aldeia Nova Empresa, local onde mora atualmente a Cacica da Aldeia e mestra artesã, Maria Laize, sua família e sua outra irmã Marlucia Sales. Neste local foi implementada a captação de água através de bomba movida à energia solar, além de instalação de caixas d’água e encanação básica.

4ª Etapa: Captação de água nas aldeias Coração da Floresta e Nova Extrema

Realizado em 2023 em parceria com a APOTI, foram instalados nas Aldeias Coração da Floresta e Aldeia Nova Extrema pontos de captação de água.

Na primeira aldeia foi feito um poço do tipo “Cacimbão” (Poço Amazônico), com instalação de bomba solar para captação e fornecimento de água para a Aldeia Coração da Floresta família de Manoel Vandick (Dua Buse), pajé mais antigo e mestre de saberes de maior referência no Jordão, autor de vários livros dos quais mantém registro sobre a sabedoria das plantas medicinais do povo Huni Kuin, além de outros saberes como cantos, festejos, dentre outros.

Na segunda aldeia foi fornecida bomba de captação de água movido a energia solar e realizado a instalação de um sistema de captação de água para algumas famílias. Além disso, foi realizada doação de materiais e instalação de um laboratório básico de óleos essenciais, viabilizando assim uma fonte de renda para estas famílias de alto valor agregado, promovendo manejo sustentável de recursos naturais da floresta.

O mestre da floresta, Pajé Dua Buse, feliz com a construção de seu poço modelo cacimbão, que provê água cristalina para as famílias de sua aldeia, chamada Coração da Floresta
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